Clotilde Perez , professora de semiótica ECA USP, faz uma análise sobre o movimento deste fenômeno
Nas últimas semanas, o movimento do NPC “Non Playable Character” – Personagem Não Jogável – tomou conta das redes sociais, entre críticas e memes se encontram as lives que renderam milhares de reais para usuários do TikTok que aplicavam a lei da ação e reação sob o controle de outras pessoas.
Esse jogo da vida real consiste em, o NPC abre uma transmissão ao vivo na rede social, e os espectadores ficam disponíveis para comandar as suas reações por meio de “presentes”, símbolos que permitem que os espectadores mostrem apreço pelo conteúdo em tempo real e são uma das maneiras pelas quais eles podem fazer com que o seu conteúdo se popularize.
Esses prêmios ditam qual será a ação do usuário e quantas vezes ele repetirá aquele movimento. Quanto mais caro for o presente, maior a reação de quem faz live. A percursora deste movimento ao redor do mundo, PinkyDoll, disse ao The New York Times que já chrgou a arrecadar US$ 3 mil (cerca de R$ 14,6 mil) em uma única live. A tiktoker brasileira, Ana Clara, viralizou ao relatar ter ganhado US$ 233,24 (R$ 1.070) em apenas duas horas fazendo live NPC.
Confira um vídeo viral que explica como os NPCs devem se comportar para ganhar mais comandos:
A Professora Titular de Semiótica ECA USP e colunista do Nosso Meio, Clotilde Perez faz uma análise aprofundada de como a performance desses usuários é uma febre nas redes sociais.
“Simular esses personagens, como o fazem alguns criadores/influenciadores, pressupõe uma produção performática envolvendo vestimentas, maquiagem, acessórios diversos, mas, principalmente, comportamentos (repetitivos) e tom de voz (infantilizada), configurando uma teatralização programada, robotizada e controlável. Aliás, este aspecto é uma das explicações do fenômeno – a produção da sensação de controle por parte dos usuários, isto porque os comportamentos dos personagens não jogáveis, ainda que repetitivos, acontecem mediante a interação nessas lives, mediada sob a forma de presentes (figurinhas), que são, em verdade, obtidos por meio de pagamento (moeda do jogo), depois transformados em remuneração da plataforma (TikTok, por exemplo) e do criador. Assim, a possibilidade de remuneração é outra explicação do sucesso deste fenômeno, ganhar dinheiro, em certa medida, fácil (por meio da diversão)”, explica
O youtuber, Felca, impulsionou a tendência ao começar a fazer o conteúdo no Brasil. Em suas redes, ele contou que começou as lives como uma piada sobre o movimento, mas acabou perdendo o controle. O youtuber doou todo o dinheiro que recebeu com esta “brincadeira” para instituições de caridade. Confira o relato:
@metropolesoficial Surfando na onda das lives de #NPC no TikTok, o youtuber Felca ganhou mais de R$ 31 mil em apenas sete dias. O destino do dinheiro, no entanto, surpreendeu aqueles que acompanham o influenciador digital, conhecido por seu humor irônico. Em um vídeo publicado na última sexta-feira (22/9), o jovem revelou ter faturado R$ 31.085,05 realizando lives onde imita personagens para receber "mimos". Contudo, Felca decidiu não ficar com a quantia arrecadada por não achar justo. "Por que vocês me deram tanto dinheiro?", questionou o influencer, revelando que a intenção de suas lives era fazer uma piada e criticar a recente onda de transmissões de NPC. "Desde o começo, quando vi o dinheiro entrando, eu falei assim: 'Isso aqui não é meu, não. Isso vai para outras pessoas'". Com isso, Felca decidiu doar toda a quantia que recebeu para instituições como Fundação Sara, Amigos do Bem, Instituto Ayrton Senna, Fundação HAJA para crianças com câncer, entre outras. #EntretêNews ♬ som original – Metrópoles Oficial
O controle sob esses personagens gera um movimento de satisfação e burburinho em torno daquela espécie de “bobo da corte” virtual, que proporciona o prazer de operar seus desejos em cima de alguém, de forma banal e cômica.
“Assim, entendo que o fenômeno é uma mistura de escapismo lúdico, exercício de controle por parte de “minorias” (os NPCs nos games seriam essas minorias) e fonte de receita simplificada, apoia na popularidade massiva dos criadores/influenciadores”, finaliza a professora Clotilde Perez.
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