A cantora carioca, que morreu de causas naturais, aos 91 anos, nesta quinta-feira (20/01), no Rio de Janeiro, estava em plena atividade até o fim do ano passado. Havia agendado para 17 e 18 deste mês o registro audiovisual de seu show no Theatro Municipal de São Paulo. A gravação geraria álbum ao vivo, além de conteúdo para o canal de vídeo dela.
“Ícone da música brasileira, considerada uma das maiores artistas do mundo, a cantora eleita como a ‘Voz do Milênio’ teve uma vida apoteótica, intensa, que emocionou o mundo com sua voz, sua força e sua determinação. A eterna Elza descansou, mas estará para sempre na história da música e em nossos corações e dos milhares fãs por todo o mundo. Feita a vontade de Elza Soares, ela cantou até o fim”, diz o comunicado oficial de familiares e da equipe da artista.
O título de “Voz Brasileira do Milênio” veio da emissora britânica BBC em 1999, mas a trajetória de Elza teve início na década de 1950, quando começou a fazer sucesso cantando sambas. Nada foi fácil. Nascida na favela Vila Vintém, em Padre Miguel, era filha de mineiros: pai operário (Avelino Gomes) e mãe lavadeira (Rosária Maria da Conceição). Avelino a obrigou a se casar aos 12 anos com Alaordes, que abusara dela. Tiveram três filhos, o marido morreu de tuberculose e deixou à jovem Elza o trauma da violência e da brutalidade sexual e a missão de cuidar dos três filhos.
“Sempre quis fazer coisa diferente, não suporto rótulo, não sou refrigerante (…) Acompanho o tempo, não estou quadrada, não tem essa de ficar paradinha aqui não. O negócio é caminhar. Caminho sempre junto com o tempo”
Elza Soares, cantora.
O Nosso Meio separou algumas campanhas publicitárias que Elza Soares protagonizou, confira:
Nossa Perfumaria: notas fortes e poderosas até o fim
A Natura realizou um vídeo de 1 minuto com a música ‘A Mulher do Fim do Mundo’, do álbum da cantora, de mesmo nome, lançado em 2016 e aclamado pela crítica. O disco foi escolhido pelo crítico do jornal The New York Times, Jon Parales, como um dos dez melhores do ano, ao lado de artistas como Beyoncé, David Bowie e Leonard Cohen.
A propaganda aborda uma linha de fragâncias fortes, com notas marcantes e intensas, assim como as mulheres. “E, nessa campanha, a gente foi perguntar para as nossas consumidoras quem eram as mulheres que as inspiravam. As respostas foram além do estereótipo comum das garotas-propagandas perfeitas e elas apontaram perfis de mulheres fortes, protagonistas de suas vidas, como a Elza, completamente autêntica e a frente de seu tempo”, afirma Denise Coutinho, diretora de perfumaria da Natura em entrevista à revista Cosmopolitan. O Brasil é, atualmente, o maior mercado consumidor de perfumes do mundo.
Duas mulheres. Duas vidas. Uma luta.
Passado e futuro inspiram o projeto Carne Negra, do Bradesco, para debater o Dia Nacional da Consciência Negra. Protagonizado por Elza Soares, eleita a cantora do milênio pela BBC, e a judoca Rafaela Silva, medalhista de ouro nas Olimpíadas de 2016, o projeto é composto por vídeo clipe e documentário que trazem a história de luta e perseverança de suas protagonistas.
Criado pela Conspiração, o projeto homenageia as mulheres fortes representadas por Elza e Rafaela, e estimula a discussão sobre diversidade e igualdade de oportunidades. O lançamento do documentário ocorreu no canal do YouTube da marca.
Elo, o cartão mais brasileiro do mundo
A campanha da Elo enaltece a criatividade e autenticidade do brasileiro. Com a tagline “o cartão mais brasileiro do mundo tem o que nenhum outro cartão do mundo tem: você”, a marca destaca sua origem nacional e sua identificação com a cultura do país.
O filme criado pela AlmapBBDO tem a participação de Elza Soares, que narra o vídeo. Há ainda a música “Nem vem que não tem”, famosa na voz de Wilson Simonal, e com participação de Hamilton de Holanda. O material também homenageia outros brasileiros de destaque como Machado de Assis.
Vamos Jangar – Jingle de João Goulart em 1960
Elza Soares foi perseguida pela ditadura militar (1964-1985). A cantora não era bem vista pelos militares por ter gravado o jingle da campanha de João Goulart a vice-presidente em 1960. Elza e o marido na época, Mané Garrincha, tiveram de deixar o Brasil após a casa em que viviam, no Rio de Janeiro, ter sido metralhada. Ela foi obrigada a se exilar na Itália com o jogador.
“Nós estávamos dentro da casa [na hora do ataque]. Eu morava no Jardim Botânico e brincava com as crianças na rua. Depois, entramos e começamos a ouvir um barulho de tiroteio. Minha casa foi toda baleada. Fiquei completamente apavorada por causa dos filhos, das crianças. Eu tinha um piano na sala e o piano foi aberto no meio [sic]”, contou a cantora em entrevista ao Programa do Porchat em 2018.
Novo Luna Valentia | Inspirando transformações
A campanha, desenvolvida pela agência DPZ&T, é protagonizada por mulheres com trajetórias de vida que transformam e inspiram: Taís Araújo, Elza Soares e Rita Lee.
Elza é referência como uma das primeiras mulheres negras a conquistarem sucesso na música no Brasil, enquanto Rita Lee eternizou o espaço no universo do rock ao reverberar sua arte libertadora, rompendo as amarras impostas à época. Já Taís Araújo é exaltada como uma atriz importantíssima no país por conscientizar a sociedade sobre temas tão relevantes, tornando-se um símbolo de luta de combate ao racismo e referência no empoderamento feminino.
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