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Saúde em narrativa: os bastidores da cobertura da pandemia

Publicado em

05/08/2021 12h10

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O Nosso Meio comemora o Dia Nacional da Saúde sob a perspectiva da produção jornalística de quem acompanha o dia a dia nos hospitais

 

A pandemia transformou hábitos e interesses. Os olhos do mundo se voltaram para a corrida da produção de vacinas e saúde nunca fora um assunto tão relevante. Profissionais da linha de frente no combate à Covid-19 foram ovacionados por todos os lares do Brasil em inúmeras homenagens pelo árduo trabalho de salvar vidas. Médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, socorristas e outras dezenas de trabalhadores protagonizaram dramáticos momentos e garantiram a continuação de muitas histórias no último ano. Mas para contar essas histórias e entregar informação de qualidade é necessário chamar um outro time de especialistas.

 

Profissionais de comunicação também participaram desse desafio global e reportaram, em tempo real, tudo o que era de interesse público, traduziram dados e gráficos, analisaram números, esclareceram dúvidas, combateram a desinformação, além de comover o país com narrativas emocionantes de superação, mas também de dor. Rodrigo Santiago é um desses contadores de histórias imerso na rotina frenética dos hospitais durante esse período.

 

Jornalista por formação, Rodrigo Santiago é Coordenador de Comunicação da Secretaria de Saúde Pública do Estado do Ceará (SESA) e atua na pasta há 8 meses, com a responsabilidade diária de garantir a transparência de informações para toda a população. “Comunicar com clareza e atingir as expectativas de comunicação de pessoas de todas as idades e de classes sociais distintas é o desafio de quem trabalha com assessoria no segmento de saúde. Mas acredito que a entrega pessoal em toda a rede SESA está sendo primordial para que o Ceará seja exemplo no Brasil, até mesmo para o mundo, no combate à pandemia. Atrelado a isso, temos o trabalho da imprensa, que foi uma grande parceira difusora da informação correta e de qualidade”, ressalta. O comprometimento da equipe SESA ainda é maior para minimizar os danos causados pela disseminação de fake news sobre a Covid-19 e o processo de vacinação. “Além do tempo gasto para apresentar a verdade e combater mensagens falsas, a desinformação, literalmente, causa óbitos no contexto da pandemia”, analisa o gestor.

Para o coordenador, o principal desafio do seu trabalho é mostrar o trabalho de transparência da SESA, pois esse é um dos principais valores da Secretaria. Outro grande desafio é atingir as expectativas de comunicação de pessoas de todas as idades e de classes sociais distintas, tornar visível o grande trabalho feito pelos profissionais da Saúde durante a pandemia”, finaliza.

 

No Ceará, o Hospital Estadual Leonardo Da Vinci (HELV) foi a principal unidade de saúde a atender infectados pela Covid-19. Lá, André Pinheiro teve uma intensa experiência como Assessor de Comunicação do Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH), entidade administradora do hospital.Tudo que saía de informação do HELV para a imprensa era alinhado com a SESA. Já os dados como números de pacientes em Enfermaria, UTI e Óbitos eram passados pela área técnica do Hospital direto para a Secretaria por plataforma digital. Então a própria Secretaria disponibilizou as plataformas como o IntegraSUS para a população ficar informada. A partir daí passamos a focar mais em pautas proativas. Passamos a ‘vender’ pautas mais humanizadas para a imprensa e foi um sucesso de imediato”, conta sobre a rotina diária.

 

O público passou a enxergar o Da Vinci, não como um lugar de tristeza e descaso, mas como um lugar de esperança e André acompanhou o drama e as alegrias dos pacientes, familiares e equipes de saúde. “Passamos a noticiar as diversas altas hospitalares, criamos as plaquinhas ‘Eu Venci a Covid-19’, altas com pedidos de casamento, com paciente tocando piano no hall do hospital, pacientes recebendo homenagem e camisas de jogadores dos grandes clubes de futebol do estado, dentre tantas outras pautas lindas que tivemos a honra e a alegria de vermos sendo divulgadas em rede nacional”, conta emocionado. Hoje, André está à frente da comunicação da Fundação Bezerra de Menezes, também administradora no segmento em gestão de saúde.

 

Dentre os desafios de atuar no segmento de saúde como assessor, André destaca que o principal é estar lidando com vidas humanas. “Não há margem para erros. A atenção tem que ser redobrada. As informações precisam ser checadas minuciosamente e sempre validadas com a alta gestão. Tudo isso com a cobrança do bom e velho deadline da imprensa. Ou seja, o maior desafío é atender a demanda dos colegas de imprensa, sem expor o paciente ou a unidade de saúde de forma que gere questionamentos. Tudo com o máximo de transparência e honestidade. Sem mentiras ou omissão, apenas a verdade a ser dita”, finaliza André. 

 

Do lado de fora dos hospitais, quem escreve sobre Jornalismo Científico também contribuiu para disseminar boas práticas e informar corretamente a sociedade. A jornalista Clara Marques, membro da Rede Brasileira de Jornalistas e Comunicadores em Ciência e Saúde (Rede ComCiência), acredita que os acontecimentos sinalizaram para a necessidade de tornar mais acessível a discussão sobre ciência, tecnologia e inovações. Para Clara, a pandemia foi um ‘terremoto’ que sacudiu não apenas o jornalismo científico, mas a produção noticiosa geral. Como comunicar uma avalanche de informações desencontradas, descobertas diárias, artigos científicos repletos de contradições metodológicas e resultados distintos, dada a explosão de um ribovírus que se espalhava de modo descontrolado? A comunicação em ciências é um desafio para quem já trabalha há anos exclusivamente nessa área, até porque somos poucos. Para os jornalistas, fica a missão de sair do lugar de conforto de suas editorias e tentar entender termos estatísticos como ‘média móvel’, ‘isolamento horizontal’, ‘pesquisa clínica’ e colaborar de forma inédita, inclusive entre veículos concorrentes, no combate à desinformação. Jornalismo científico é sinônimo de alfabetização científica e aproximação dos pesquisadores com a comunidade”, reflete a especialista.

Dentre os principais desafios, a comunicadora destaca que manter uma incessante atualização é o principal. “De verdade, precisamos absorver o máximo possível de um segmento que muda todo dia, com tratamentos mais revolucionários, mas ainda inacessíveis economicamente; precisamos entender de jornalismo, de ciências biológicas, de medicina, de saúde coletiva, de epidemiologia… Chega a ser exaustivo”, comenta. 

Como motivação, Clara diz que tem como leme norteador a filosofia de vida de que precisa trazer uma informação fácil e democrática. “A ciência é bela e o grande público merece também se encantar e valorizar quem todo dia, às vezes tira do próprio bolso, dinheiro para tocar sua pesquisa. Nosso Brasil merece que a ciência seja valorizada, que seus pesquisadores sejam reconhecidos e que o grande público, da classe A à E, veja nas nossas mentes brilhantes um espelho de uma sociedade mais desenvolvida, com menos desigualdades, com mais acesso à educação e mais oportunidades.”, finaliza. 

Seja com a atuação pelos corredores dos hospitais ou atrás do computador, contando boas histórias ou traduzindo dados, o Nosso Meio parabeniza os comunicadores que se empenharam na cobertura da pandemia do Coronavírus e de alguma forma colaboraram para o bem-estar e saúde da população.