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Série Trajetória em Traços – O demasiadamente humano Napoleão Torquato

Publicado em

03/09/2021 09h00

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Ao longo das últimas semanas, o Nosso Meio apresentou perfis de ilustradores cearenses na série Trajetória em Traços. Nossas mentes criativas narraram um pouco das suas percepções sobre mercado, profissão, portfólio, dissabores e conquistas de quem leva a brincadeira de criança como trabalho. Hoje, fechamos o ciclo com nossa quinta personalidade, Napoleão Torquato, que retruca uma pergunta basilar, demonstrando que a ilustração não serve para ser definida nem ter limites. Afinal, o que é uma ilustração mesmo?

 

“Agora, o que é uma ilustração? É difícil definir, pois é um substantivo cheio de conceitos. Cartuns e charges são formas de ilustrações, caracteres escritos podem ser considerados formas de ilustrações, placas de trânsito, rabiscos de nenéns e telas do Pollock podem ser consideradas ilustrações. Ilustração é o que comunica; é o que transmite algo: ideia ou sentimento; e nessa definição, somos todos ilustradores de algo”. Nada mais justo do que começar o perfil de Napoleão Torquato, o Napo, com uma definição autoral que indica de forma clara sua relação passional com o desenho.

 

Envaidecido, recebe as congratulações e o mérito de ser considerado um dos nomes exponenciais da ilustração no Ceará, mas não se considera um gigante. “É fato que existe muita gente boa e capaz no nosso Estado. Pode parecer bairrismo, mas é surpreendente a quantidade de bons artistas nessa terra, a maioria deles está longe dos holofotes – infelizmente – mas é só saber para onde olhar”, relata o artista.

 

Napo tem o hábito de colocar amigos e colegas em quase todos os trabalhos, como figurantes ou protagonistas. Um deles conta com a participação mais que especial de sua filha Catarina. Claro que a produção é uma das mais queridas pelo artista, que garante um espaço de destaque em seu portfólio para a produção. “Em 2019, fiz um VT do Dia dos Pais para o SVM. Dentro de um metrô melancólico estavam vários colegas de trabalho e amigos. Nessa campanha usamos também a voz da minha filha Catarina. Esse é um trabalho que particularmente gosto muito da estética elegante e harmonia cromática; e também da capacidade de evocar afeto que ele tem”, exalta.

 

Sobre a evolução da profissão de ilustrador, Napo percebe que desde o princípio, ilustração e publicidade estiveram bem juntos, praticamente casados. Tudo era desenhado, inclusive as fontes. Paradoxalmente, os ilustradores podem usar centenas de ferramentas e tecnologias para realizar os mais diversos trabalhos, mas algumas coisas sempre vão precisar de um toque demasiadamente humano, com direito a cinzel, martelo, mármore e paciência. Para Napo, “sem ilustração, o meio publicitário perde boa parte da sua alma. Torna-se seco, frio, árido e de certa forma menos humano”, conclui.

 

E por falar em tecnologia, o ilustrador está seguro de que existe um futuro brilhante para a profissão; mas só “enquanto Elon Musk não criar um robô desenhista”. Até lá, os ilustradores são os responsáveis por adicionar um elemento humano nas peças e campanhas e conferir maior sensibilidade sempre que necessário. Ele ainda garante que não existe dom. “Algumas pessoas têm uma aptidão natural para desenhar, é verdade, mas qualquer pessoa que tenha disciplina e paciência será perfeitamente capaz de desenhar muito bem com o devido tempo”, reflete. De conselho, Napo reforça o treino diário e revela: “Antes da fase cubista, Picasso desenhava e pintava de forma realista; o ponto é que ao dominar os fundamentos, o artista será capaz de abstrair seu trabalho e viajar por outros estilos, embora exista um limite. Até hoje não sei desenhar mangá”, em tom de brincadeira.

 

 

 

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