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A arte de trazer a periferia para o audiovisual

Publicado em

28/12/2022 09h00

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No Brasil, o audiovisual é um setor ainda em formação e seguir carreira voltada às artes é concordar com o peso de que é um sistema priorizado pelas classes dominantes, o qual muitas vezes fecha as portas para pessoas da periferia. Claramente, uma batalha permanente entre culturas.

 

De alguma forma, todos nós consumimos cinema, documentários, séries e outros viéses que o audiovisual nos proporciona. Sendo assim, por que é importante o investimento e a inserção de periféricos nesse meio? A resposta é clara, realidade e consciência de classe, o que pode levar a influenciar na contratação de atores por raça, por exemplo. Quando deixamos de investir em arte para as comunidades, banalizamos as injustiças e desigualdades sociais, além de fecharmos os olhos para talentos que possam impulsionar a cultura de vídeos e cinema no Brasil.

 

O audiovisual muitas vezes é trabalhado como a representação de uma realidade, então temas que são trabalhados em peso por periféricos como racismo e preconceito é o que ajuda a formar uma sociedade mais informada e consciente. Tal investimento, além de impulsionar a carreira de muitos jovens promissores, também contribui para a diminuição da desigualdade.

 

Um ponto a ser considerado no audiovisual é a capacidade de mover a economia brasileira, sendo um dos setores com maior impacto socioeconômico no país, tendo retorno significativo aos cofres públicos. Em estudo publicado pela Spcine, empresa de audiovisual da Prefeitura de São Paulo, a cada R$ 1 investido na produção de um filme/série na cidade, o retorno médio é de mais de R$ 20.

 

Ao jornal da USP, Luís Dantas, professor do Departamento de Rádio e Televisão da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo, destacou que mais de 200 mil empregos diretos e quase 300 mil empregos indiretos são gerados pelo setor, anualmente. São R$ 3 bilhões pagos em salários fixos e mais R$ 4 bilhões pagos indiretamente em serviços movimentados pelo audiovisual.

 

Outros dados que nos ajudam a entender ainda mais o impacto de toda essa indústria, vem do Google, que afirmou que a cada 10 pessoas, ao menos 6 optam por vídeos online do que TV, e do HubSpot, que mostrou que 78% das pessoas assistem a vídeos semanalmente, ao passo que 55% consomem conteúdos audiovisuais todos os dias.

 

Mais do que nunca, devido ao crescente número de pessoas com acesso a cinemas, TV, documentários e séries, é essencial a inserção dessas comunidades periféricas, e iniciativas que fomentem essas mudanças são muito bem-vindas. A exemplo, participei no último dia 21 de novembro de uma rodada de negócios da Amplifica Cine juntamente com coletivos periféricos de audiovisual no Instituto Criar.

 

Luiz Toledo, diretor de Investimentos e Parcerias Estratégicas da Spcine, e o apresentador e idealizador do Instituto Criar, Luciano Huck, além de representantes de empresas como Netflix e Disney, estiveram presentes e compuseram um debate repleto de novas ideias.

 

Na ocasião, foram apresentados pitches de saída sobre negócio, ou seja, soluções para uma maior inserção de comunidades na indústria, o que me proporcionou uma experiência inesquecível de esperança na troca de ideias com empresas produtoras de audiovisual do mercado nacional mostrando produtos, serviços e novas oportunidades de negócio.

 

O envolvimento da periferia é o futuro, é uma potência que vale a pena ser sondada e trabalhada. Através desses debates, podemos estimular a competência econômica, a inserção da periferia no mercado de trabalho do audiovisual, e proporcionar mais voz aos coletivos, por meio da criação de novos negócios.

 

Filipe Ratz 

CEO e Diretor Executivo da Pira, empresa especializada na criação e realização full service de projetos, com foco no mapeamento de oportunidades e dados de consumo sobre a geração Z, cujo propósito é conectar marcas e comunidades digitais.