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Afrofuturismo: Quando a estética indica um novo futuro

Publicado em

01/12/2022 09h00

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Repensar um futuro inserindo a negritude em universos repletos de artes, ciência e tecnologia sem serem marcados pelo racismo e opressão, isso é a proposta do Afrofuturismo. O conceito que define esta convergência entre uma visão afrocêntrica com a ficção científica está em circulação há décadas. Nos anos 50, o jazzista Sun Ra investia nesta visão artística misturando filosofia cósmica, pacifismo e signos do Egito Antigo, abrindo, sem saber, o caminho para o Afrofuturismo.

 

No Brasil, em plena ditadura militar, em 1969, Gilberto Gil lançava “Cérebro eletrônico”, que trazia elementos afrofuturistas. O termo no entanto só foi cunhado em 1994 pelo crítico cultural e acadêmico Mark Dery no seu ensaio Black to Future, cujo título já subvertia o do filme “De volta para o futuro”, que de forma ainda muito simplista, refletia sobre os motivos de haver tão pouca ficção científica de autoria negra nesta época.

 

De fato, não é algo novo. Mas foi a partir de 2010 que começou a ganhar fôlego e força, tanto na estética quanto como conceito. Nomes como Rihanna, Janelle Monae, Erykah Badu e Beyoncé estão entre os que apresentaram essa influência para o mundo.

 

E qual a importância do Afrofuturismo para a cultura negra contemporânea?

 

O que percebemos agora nessas abordagens do Afrofuturismo contemporâneo é que elas estão interessadas em criticar a realidade e tentar criar novas alternativas possíveis de futuro a partir da própria experiência negra sem ter o racismo como elemento tão forte ou ameaçador na vida das pessoas.

 

Muita gente ficou encantada com Pantera Negra. Sabia que o filme tem a ver com Afrofuturismo?

 

A narrativa do filme é centrada no rei de Wakanda,T’Challa, o personagem fictício mais rico do universo Marvel. Diferente de muitos outros heróis, T’Challa herda seu manto de seu pai T’Chaka e ganha seus poderes. Nos é apresentado agora, não apenas a figura de um novo herói, mas também a fictícia civilização de Wakanda, que nunca foi escravizada nem colonizada, pelo contrário, desenvolveu-se como uma sociedade ancestral altamente tecnológica.

 

Em uma entrevista de 1990 com o The Comics Journal, o co-criador Jack Kirby descreveu porque ele criou o personagem:

 

“Eu inventei o Pantera Negra porque eu percebi que não havia negros nos lugares onde transitava… Eu tinha muitos leitores negros. Meu primeiro amigo foi … preto! E eu estava ignorando-os, porque eu estava me associando e falando com todos os outros grupos, exceto com eles”.

 

Essas novas abordagens permitem a gente imaginar novos futuros para a população negra, reelaborando um passado que historicamente é desconectado do continente africano com suas narrativas perdidas no tempo e nas correntes da escravidão.

 

O Afrofuturismo é um movimento plural e multifacetado de grande importância para nossa realidade, especialmente na diáspora, onde existe um vazio identitário e histórico. É a autonomia de poder pegar música, literatura ou qualquer outro tipo de arte para desenvolver um universo inteiro e dizer: “Isso é nosso.”

 

O Afrofuturismo foi, é e será necessário para começarmos uma construção de novas memórias afro alternativas do futuro, agora

 

*Daniel Silva é graduado em Publicidade e Propaganda pela Faculdade Católica do Ceará e Sistemas e Mídias Digitais pela Universidade Federal do Ceará (UFC). É assessor Governamental na Prefeitura Municipal de Caucaia. Já atuou como criativo na Vega S/A Transporte Urbano e na maior agência de Relações Públicas do Nordeste, Engaja Comunicação, segundo o Anuário Nacional de Comunicação Corporativa 2022. Além disso, tem passagem como designer em agências de publicidade do Ceará. Conquistou prêmios na área de Design como Festival Nestlé de Novos Talentos, Prêmio Gandhi de Comunicação, Central de Outdoor, além de ser finalista de nível nacional como o Prêmio Estampa Brasil da Renner e o Festival Brasileiro de Propaganda.