Raimundo, e assim por diante

Por Kochav Koren

07/11/2022 10h06

Compartilhe
  • Whatsapp
  • Linkedin

 

Faz-se bem valorar apures e priores dias de escrita, desenho e pesquisa. O domínio técnico, sem embargo, dota a realidade da técnica pela subjetividade, de contínuo interpretativa. O fluxo do como se organiza, interiormente, a ação é o proveito. Em sua constância, autoevidente e não problemático. Destaco atenção à percepção. Desprezem o uso de “Miro” na coleta de dados síncrona com o entrevistado. Atesto-o enquanto dita cinca da escuta

 

O fluxo social muda a vida cotidiana, a política, sobretudo, drasticamente. Existe um interior que se nutre em uma perspectiva micro. Este esquema não pode ser desprezado. É mister diagnosticá-lo, pela autonomia humanus da pessoa pesquisadora. Demando entranharmo-nos às interações cernes, abarrotadas no pensamento de esquina. Impalpáveis nas entrevistas “em profundidade” dos poucos minutos das “pesquisas de experiência”. Intento, assim, exercitar a categorização dos micro-fluxos do mundo interior: Figuras. Provocantes e publicísticas vis-à-vis uma realidade neófita, quando por exemplo, alhures se depararam com um signo de uma nova embalagem. 

 

O que provoco hoje bem pode ser aplicado a qualquer feature estreante. Uma caixa triangular de pizza, muito pode dizer a um ator. É certo que este dialoga com a sociedade, ao estar circundado em macroprocessos históricos. Libertas, sem amarras socioculturais litúrgicas! Por mais que estas a cerquem, alguém primeiro a projeta, as projetam. Elucido, aproximando-me de Raimundo dos Queijos, que não vende azeitonas, e que nesta croniqueta faz-me perceber Edmundo. Mundo. Mundo da vida na esquina, aos pedaços. Pormenorizo.

 

Será aterrador o dia em que existirem franquias do Raimundo dos Queijos. Sabe-se lá daquelas do Leão do Sul nas Aldeotas em Fortaleza? Descuro-as. O que sei é que sobre o queijo acertado do Seu Raimundo; do melhor pastel do mundo ao sol escaldante da matriz do Leão da Praça do Ferreira. Ambos, não inovam em maquinetas de crédito. Um reclama ao fiado, o outro alerta: “Cuidado! Azeitona com caroço no pastel”. Quando miúdo jamais alcancei a importância às idas a Esplanada, ou quando acompanhava minha velha temerosa com o atraso do pagamento do carnê do Baú da Felicidade. Queijo tem de ter o tom sisudo, deve amolecer na boca ao balanço da cadeira do velho. Azeitona tem que ter caroço. Pizza, sim, por favor, não inovem, pizza exige azeitona. Assim foi, assim será, até que provem o contrário. Viva a constância!

 

“Não inove, não inove” – repetia-se a cada passo dado aos dez graus, dos quinze que Alexa havia errado. Kochav insistia. Kochav é meu codinome. Eu sou Kochav em alguns aspectos, cansei de afirmar no diário de mídia que registrou um ato experimental de pee-review compartilhado com 42, um pupilo. “Não inove”, pensava a cada passo regresso para João Brito, três quadras da Padre Antônio no Brooklin. Shabbat se convertera no domingo, mas ainda era sábado, umas oito. Noite, por certo, Seu Raimundo já dormiria, salve D’us longe do sono profundo de Edmundo. Em uma rede apostaria. Eu sou o único cearense sem rede, tudo me vinha à cabeça no temporal da experiência da esquina.

 

Gestalt seria culpada, ou será: culpado? Saberá bem o mestre, sobre gênero germanófono. Interessa, os acontecimentos do agora em diante. Aqui vem. Arrisquei em uma pizza de quatro ou seis pedaços, qual mesmo o padrão? Havia comprado em uma nova loja do bairro, ao lado do meu barbeiro, não o cearense de Osasco, um paulista. Paulista ou paulistano? Nunca sei. A caixa era menor. Bem menor. Teria mudado a caixa, apenas, ou o pedaço haveria encolhido. Repito: quando se compra uma pizza de menor tamanho, muda-se a dimensão do pedaço? Kochav infernizava nesta pergunta.

 

Inovei no ritual de sábado. Que arrependendimento! Explico o motivo. Pizza é o framework, schemata, Gestalt, que desenho para compor Figuras que se esquematizam. Prometi em minha última intervenção. Dividirei em pedaços a composição de Figuras em Schütz. A pizza que inventei, retomo: “não inovem, personas”. A história da Ciência já revelou, continuou e continuará não inovando. Perceba apenas, ou seja, abstraia-se à percepção. A forma, esta sim, sejais livre, cônscio, constante e contínuo – em fluxo progressivo. Não retirem azeitona da pizza! Não abram franquia do Raimundo. Abram-se às azeitonas com caroço. Tudo acaba em pizza, mas pizza sem pedaço, jamais será pizza. Bolo talvez seria. Bolo se come nos pedaços. Pizza, aos pedaços. Tal shemata que compõe Figuras. O todo é passível ao experienciar Figuras. Aos pedaços.

 

Parece-me que há pedaços “lulopetistas” e “bolsonarista” em cada brasileiro. Esqueçam-se de um país apartado, vejam-no como fatiado. Fatias interiores de si. “Sipá” também um “cirista”, não além de três pedaços, mostrara-se. Já tendo pecado por política, confessei para João que nunca tocaria este tom. Confesso meu átimo segundo: sou seguramente consumidor da pizza do Coco Bambu. Coco Bambu representa o orgulho de uma marca “global”. Um “made in Ceará” esquecido como “local” nas esquinas da zona sul de São Paulo. É a melhor pizza nesta região. Vê-se vivos pedaços: delineadamente riscados. As azeitonas brilhas ao escuro. Legítimas pretas, como as do pé do quintal de minha mãe, trabalhadora de chão de fábrica na Glória do Ribatejo. Longe do Raimundo, ao lado do distinto Senhor João.

 

Trágico são as inovações que inventam quebras de rituais. Não falo das “disrupções”, “destruição criativa” de Schumpeter. Falo de uma Figura que espera encontrar delineamento de pedaços em uma pizza e recheada de azeitonas bem servidas. Em Pittsburgh, esta Figura não possui mesma espera. Lá, Spak Brothers é meu lado democrata, bem na Penn Avenue: só espero a súpera massa, o melhor queijo e o sumo molho de tomate. Sem azeitonas. 

 

Figuras em Schütz é visto, tomando Dr. Hanke, em oito pedaços. Ao menos, como os enxergo. Explico imitando as enumerações do eviterno que traduziu do original de 1957, Strukturen der Lebenswelt (Estruturas do mundo da vida, Michael Hanke traduziu para Galáxia em 2021). Contrasto com a proparoxítona metodologia de persona utilizadas por desenhistas de produtos digitais. Ratifico antes, Figuras são oxítonas.

 

  1. Constância: Personas não veem Kochav e Fernando. Fernando, assim e assado, ama azeitonas; com um utilizador. Kochav, assim e assado, ama pizza de Pittsburgh; com um segundo utilizador distinto. Fraquejam à medida que o discurso é fixamente polarizado. Procede uma instância maquinável, são esquerda ou direita, bem ou mal. Figuras, em seu primeiro pedaço do framework que se estabelece, crê em uma conformidade cíclica do “e assim por diante”. Espero na pizza, azeitonas com caroço quando estou no Brasil, e assim por diante esperarei. Afinal, espero assim, por ter sido sempre de tal modo, até então. Nos EE.UU. espero sem azeitona, “pagarei por um topping”. Natureza, cultura e sociedade são as forças de constância, ou disrupção. Chuva, sotaque e cidade, pode mobilizar vigência.

 

  • Resolução de problemas


  • Sedimentação


  • Tipificações e simbolizações


  • Sociabilidade


  • Relevância


  • Linguagem


  • Comunicação


A pizza se come aos pedaços. Com as azeitonas de minha mãe e o queijo do homem do queijo, minha primeira e outra faceta política. O que digo a nós que fazemos UX é como percebo. Raimundo, mesmo tendo o todo de “mundo”, em pedaço, não se associando a esta dicção. Toca mais Edmundo, pelo final sonoro “mundo”, tal Edmund. Husserl, refiro-me, professor de Schültz. Há de se experenciar, UX, vivências. Erlebnis conceito husserliano, que bem tem a contribuir com o queijo de Raimundo que não virou franquia mesmo que venda azeitonas. Figura se arranja, “and so on”, “agora-e-assim”, “Jetzt und So” – tradução de Tomas da Costa pela Vozes em 2018 – ou “e assim por diante” como traduz Dr. Hanke. Concentrar-me-ei no segundo pedaço na croniqueta próxima de Nosso UX, firmemente, quinzenal.

 

Fernando Nobre

Cientista da mídia e etnógrafo de produtos digitais. Pesquisador visitante do Zentrum für Medien- Kommunikations- und Informationsforschung (ZeMKI) da Universidade de Bremen na Alemanha (2022) e Max Kade German-American Center da Universidade de Kansas (2018). Graduado em Publicidade pela Escola Superior de Propaganda em Marketing, mestre em Sociologia e doutor em Estudos da Mídia. Fundador do Ernest Manheim Laboratório de Opinião Pública

fernando@ernestmanheim.com.br | @noblecavalcante

Kochav Nobre
Auditor de pesquisa na Ernest & Young
Kochav Nobre é auditor em pesquisa na Ernst & Young (EY). Professor designado na Universidade do Estado de Minas Gerais. Pesquisador visitante do Zentrum für Medien- Kommunikations- und Informationsforschung (ZeMKI) da Universidade de Bremen na Alemanha (2022) e Max Kade German-American Center da Universidade de Kansas (2018). Graduado em Publicidade pela Escola Superior de Propaganda em Marketing, mestre em Sociologia e doutor em Estudos da Mídia.Possui mais de dez anos de experiência em pesquisa e oito anos em docência. Inventor do software Qualichat, desenvolvido em seu pós-doutoramento na UNICAMP, entre 2020 e 2022. Fundador do Ernest Manheim Laboratório de Opinião Pública.