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Semioticista Clotilde Perez comenta campanha da CBF para dissociar política da camisa da seleção

Publicado em

11/11/2022 15h35

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Uma das mais importantes pesquisadoras em semiótica e consumo do país compartilha sua análise sobre apropriação do símbolo da camisa da seleção brasileira

A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) divulgou, na coletiva da convocação dos jogadores que irão representar a seleção brasileira na competição, uma peça publicitária para promover a camiseta da Seleção Brasileira. Nas vésperas da Copa do Mundo do Catar, a entidade decidiu promover uma campanha para reconectar o torcedor com a camisa da seleção brasileira. A ação institucional, que teve a participação de torcedores e colaboradores da CBF, foi desenvolvida pela Zoégas Comunicação e produzida pela Yep Filmes.

“A Copa do Mundo é um momento de união, de celebração de todos os torcedores brasileiros. Nossa mensagem com este vídeo é de incentivo. O futebol não vive sem o torcedor. E conectar pessoas de todas as idades, lugares, cores, raças , ideologias e religiões ao futebol é o nosso propósito”, destacou o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues na ocasião.

 

O filme usa um trecho da música “Tão bem”, de Lulu Santos, cujo refrão diz: “Ela me faz tão bem, ela me faz tão bem, que eu também quero fazer isso por ela”. Segundo a CBF, a campanha terá versões para televisão e Internet e será veiculada em todo o Brasil, de 6 de novembro até o final da Copa, em 18 de dezembro.

 

 

Segundo a semioticista e diretora do instituto de pesquisa Casa Semio, Clotilde Perez, a apropriação dos símbolos pátrios pela extrema direita, incluindo a camisa da seleção brasileira de futebol, revela a tradição autoritária de que apenas alguns (“eles”) têm razão e discernimento sobre o real.

“Essa parcela da população se apropria – no sentido de tomar posse – do que é de todos, impondo o distanciamento e a apartação dos ‘outros’ , no entendimento de que o que é diferente de mim deve ser silenciado, apagado, eliminado. Por outro lado, os que não comungam das crenças e valores da extrema direita, se apartam dos símbolos contaminados por significações parciais e que contradizem os sentidos humanistas profundos ligados ao respeito a toda e qualquer diferença, no reconhecimento da diversidade e no valor da ciência”, explica a especialista.

A publicidade pode ser um caminho para construir novos e melhores valores sobre o conceito do que é ser brasileiro. Nesse sentido, a pesquisadora ressalta que a publicidade pode ser um dos protagonistas nesse trabalho de reiteração.

“A publicidade é capaz de construir vínculos de sentido fortes, abrir o caminho para o restabelecimento dos sentidos legítimos dos símbolos verde e amarelo, plasmados na bandeira brasileira e na camisa da seleção brasileira de futebol. Acredito que a comunicação poderá abrir esse caminho, mas será preciso mais. É necessário impactar e envolver os brasileiros entorno de um objetivo comum e, nesse sentido, a copa do mundo carrega essa potencialidade. No entanto, as manifestações particulares dos jogadores, principalmente, aqueles que têm maior ascensão sobre o público, poderá tensionar e reforçar as apartações. Ou seja, a campanha publicitária tem uma ótima potencialidade de abrir o caminho para uma experiência integradora com os símbolos nacionais, legitimando-os  como de todos.”, conclui Clotilde Perez.

 

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