Artigo
A combinação no enfoque da economia, acrescida do social e do ambiental, é um pressuposto fundamental da sustentabilidade. No Brasil às debilidades estruturais, como desigualdade, falta de moradia, de saneamento básico e de acesso à água tratada, se somam às dificuldades da conjuntura. A vulnerabilidade e insegurança alimentar crescem.
A persistente crise econômica tem tornado crucial o apoio à população em meio à Pandemia, muitas das quais, desempregadas, ou impedidas de exercer sua atividade. Para além da medida de amparo social, tendo em vista o aprofundamento e extensão da crise, outras medidas se tornam cruciais para o seu enfrentamento. Note que muitos países têm adotado programas de fomento às atividades e à infraestrutura como forma de estimular a retomada da demanda efetiva, portanto, da renda, do emprego e da arrecadação tributária.
Trata-se, por exemplo do caso dos EUA. Depois de ter aprovado um pacote social da ordem de US$ 1,9 trilhão, foi anunciado, mais recentemente, pelo presidente Biden o “Plano de Emprego Americano”. O programa prevê investimentos em infraestrutura de US$ 2,25 trilhões, contemplando a economia verde, em áreas como residencial, transportes e mobilidade urbana em geral, dentre outras.
A Europa, também anunciou plano de incentivo à economia no valor de 750 bilhões de Euros, acompanhada de uma proposta de orçamento de longo prazo para o período 2021-2027, que abrange a oferta de crédito a custos competitivos para empresas e pessoas físicas. A China tem longa tradição de adoção de medias anticíclicas mediante perspectiva de diminuição da demanda efetiva.
Essa ação de coordenação de políticas e medidas adotadas por vários países denota o esforço concentrado de, tanto combater a crise decorrente da Pandemia, como também empreender uma clara estratégia de desenvolvimento. Eles estão corretamente conduzindo um diagnóstico de debilidades e lacunas nos vários campos social e de infraestrutura para fomentar e induzir o crescimento em bases sustentáveis, envolvendo dentre outras questões, a energia renovável. Subsidiaria e complementarmente também se destaca o esforço na ampliação da competitividade sistêmica, a melhora do “ambiente” de negócios.
Outro traço comum das ações em curso é a combinação da coordenação e atuação indissociável do Estado com o setor privado. Seria um equívoco atribuir essa responsabilidade somente a um deles. Ambos exercem papel relevante para superar a crise. Mas a iniciativa deve ser necessariamente do Estado, uma vez que o investimento público é determinante no processo. Dado o seu o seu efeito multiplicador e de “demonstração”, ele estimula o setor privado a também fazê-lo, sinalizando futuro crescimento da demanda e um efeito positivo retroalimentado.
Antonio Lacerda
Professor-doutor, diretor da FEA-PUCSP, presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon) e sócio fundador da AC Lacerda Consultores, publicou, entre outros, “O mito da austeridade” (Editora Contracorrente, 2019).